sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Monteiro Lobato e “Urupês”

Dando continuidade ao seu ciclo de conferências intitulado “Cadeira 41”, a Academia Brasileira de Letras recebeu na tarde desta quinta-feira, 23 de agosto, o escritor e ilustrador Luís Camargo, que palestrou sobre o tema “Cem anos de “Urupês”, de Monteiro Lobato: o primeiro best-seller nacional”.
José Bento Renato Monteiro Lobato

Era o ano de 1914. José Bento Renato Monteiro Lobato se dedicava à fazenda que herdara de seu avô. A seca do inverno causava problemas e as constantes queimadas praticadas pelos caboclos também eram motivo de dor de cabeça. Impulsionado pela indignação, Monteiro Lobato escreveu uma carta ao jornal “O Estado de São Paulo”. “Velha Praga” chamou a atenção e causou polêmica, fazendo com que seu autor publicasse outros textos que dariam origem ao livro “Urupês “. O último deles, cujo título dá nome ao livro, revelou aquele que se tornou um de seus mais famosos personagens: Jeca Tatu.
Jeca Tatu traduz a situação do caipira brasileiro, abandonado pelo poder público, condenado ao atraso  econômico e educacional. A significação social do personagem foi destacada no discurso proferido por Rui Barbosa, no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, à época de sua candidatura à presidência da república, em 20 de março de 1919.
“Urupês “ havia sido lançado no ano anterior, 1918, e esgotou-se logo no primeiro mês após o lançamento. Teve mais duas edições naquele ano. Foi nosso primeiro best-seller.
“Urupês” trouxe uma série de inovações, dentre elas, a linguagem empregada no livro. Monteiro Lobato colocou a oralidade no papel com todo seu coloquialismo e neologismo, uma ousadia para a época, mas que anos mais tarde se tornaria uma das propostas dos modernistas da Semana de 22. Quanto ao estilo de Monteiro Lobato, Antônio Cândido escreveu:
“... é preciso ler este livro para compreender o Sr. Monteiro Lobato, no dinamismo da sua vida literária - homem complexo e instável, muito moderno para ser passadista, muito ligado à tradição literária para ser modernista, ponto de encontro entre duas épocas e duas mentalidades, símbolo de transição da nossa literatura, exemplo de labor intelectual e consciência literária.” (CANDIDO, apud CAVALHEIRO. 1956: tomo 2, 141-142).
No Natal de 1920, Monteiro Lobato publicou seu primeiro livro dedicado ao público infanto-juvenil, “A menina do Narizinho Arrebitado”, onde apresenta mais dois de seus principais personagens: Emília e Narizinho. No ano seguinte, foi relançado sob o título “Narizinho Arrebitado”, com aventuras inéditas, tornando-se, mais tarde, o primeiro capítulo do livro “Reinações de Narizinho “, propulsor da série “Sítio do Pica-pau Amarelo”, que chegou a 23 volumes e constitui ícone da literatura infantil brasileira.
Monteiro Lobato parece ter levado a sério a máxima “é pela palavra que se pega o leitor” e o resultado disso é que suas obras permanecem habitando o imaginário do público de diversas idades e gerações.
Na próxima quinta-feira, dia 30, às 17h30min, a Academia Brasileira de Letras encerra seu ciclo de conferências “Cadeira 41” com palestra do escritor e jornalista Hugo de Almeida, sob coordenação da Acadêmica Ana Maria Machado. O tema será “Osman Lins, 40 anos depois, mais atual”.

Fontes:

BARBOSA, Rui. A questão social e política no Brasil. Disponível em <http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/rui_barbosa/p_a5.pdf>. Acesso em 23 ago 2018.
CAVALHEIRO, Edgard. Monteiro Lobato: vida e obra. Tomos 1 e 2. 2ª ed. revista e aumentada. Companhia Editora Nacional. São Paulo, 1956.

Nenhum comentário:

Postar um comentário