Foto: arquivo pessoal. |
Junior Dantas nasceu em Ipueira, cidade do interior do Rio Grande do Norte, na divisa com a Paraíba. Desde criança, gosta de teatro e, incentivado por um grupo amador, começou a atuar. A vontade de se aprimorar o levou a Campina Grande (PB), onde cursou Jornalismo. Foi lá também onde teve a certeza de que carreira iria seguir, ao entrar, pela primeira vez, em um teatro. Em Angra dos Reis (RJ), participou do Festival Internacional de Teatro de Angra (FITA), onde conheceu a atriz e diretora da Cia. OmondÉ, Inez Viana. Nessa companhia, Junior está há 10 anos e estreia, em janeiro, o espetáculo “Auto de João da Cruz”, de Ariano Suassuna.
Em entrevista às Meninas do Blog, o ator potiguar fala sobre sua trajetória, o grande sucesso “O Pequeno Príncipe Preto”, que surgiu de uma história pessoal, e seu próximo trabalho na Cia. OmondÉ. Confira!
Blog For You: Você sempre sonhou em ser ator?
Junior Dantas: Eu sou de uma cidade muito pequena, no interior do Rio Grande do Norte chamada Ipueira, que tem um pouco mais de 2000 habitantes. É a segunda cidade menos populosa do estado do Rio Grande do Norte. A minha infância toda foi lá. Aliás, até hoje minha família mora lá, minha mãe, meus irmãos... E lá, eu tive muitas referências legais. Tinha um grupo de teatro amador na cidade, o circo... Então, eu tive uma infância muito lúdica, bem legal, cheia de brincadeiras. Eu lembro que com 7 ou 8 anos, eu já me interessava por teatro e já fazia apresentações em escola, igreja e também era muito ligado a esse grupo de teatro amador que rolava na minha cidade. Então, sempre foi um sonho sim. Claro que lá era uma cidade muito pequena, não tinha um teatro, um espaço físico, mas é uma cidade muito cultural.
Blog For You: “O Pequeno Príncipe Preto” foi idealizado por você. Há um quê de biográfico? Conte-nos um pouco de sua infância e sua trajetória de Ipueira até o Rio de Janeiro.
Junior Dantas: Quando eu era criança, em Ipueira mesmo, ia rolar uma apresentação do Pequeno Príncipe, na minha escola, e eu pedi à professora para fazer o personagem e ela me disse que eu não poderia porque eu não tinha as características físicas desse príncipe, que eu não era loiro, que eu não tinha os olhos claros e aí eu cresci com isso. Aliás, na minha infância, eu não tinha muitas referências positivas dos personagens, dos super-heróis, ou quando ligava a TV, ou quando lia um livro e, claro, eu não entendi muito bem isso, né? Cresci com isso. E foi daí que surgiu sim a ideia de fazer o projeto e chamei alguns amigos. A galera topou, comprou a ideia, e daí surgiu “O Pequeno Príncipe Preto”. Tem uma parte do espetáculo em que eu narro o porquê montamos a peça. Mas claro a gente pegou a história do pequeno príncipe e trouxemos para a nossa cultura, a cultura africana, a cultura brasileira, para que as pessoas se identifiquem com a história. Partiu também da pergunta “por que todo príncipe é sempre loiro, do olho claro e vai chegar num cavalo branco?” E nós somos todos príncipes e princesas. E é isso, a gente conta a nossa história.
Blog For You: “O Pequeno Príncipe Preto” já foi visto por mais de 60 mil pessoas, em teatros e escolas públicas, Brasil afora. Você imaginou que o espetáculo alcançaria todo esse sucesso?
Junior Dantas: É o meu primeiro espetáculo independente aqui no Rio de Janeiro. Eu faço parte de uma companhia chamada OmondÉ, que é dirigida pela Inêz Viana. E é engraçado porque realmente você não imagina fazer teatro, uma peça não tem uma fórmula, não é uma receita de bolo, então, assim, tudo pode acontecer. Claro que a gente sempre se pergunta “será que vai dar público?”, “vai dar certo?”. Só que essa peça já cresceu com muita força. A vontade da equipe, a gente estreou em plena Copa do Mundo, em 2018, no Glauce Rocha. Era para ficar um mês, nós ficamos três meses, lotando, fazendo sessão extra e só saímos do teatro porque começamos a receber convites. Então, foi um espetáculo onde a equipe toda se dedicou, que eu me dediquei muito e aconteceu muita coisa legal, de chegar em lugares aos quais eu estava indo pela primeira vez na vida, como Porto Velho (RO) ou ter que ir a Goiás e ter que fazer sessão extra. É muito bacana você perceber a força do trabalho, de como chegar às pessoas que também querem ouvir a sua história e como elas se identificam, como elas se sentem representadas. O que eu vi de depoimentos de pessoas que também passaram por histórias iguais as minhas e pessoas na minha idade que não tiveram esses personagens na infância se emocionando, se identificando e levando os filhos, as crianças para assistir... É um espetáculo que vai além do teatro pois, através dele, a gente cria um debate, uma conversa entre pais e filhos. É um espetáculo para a família inteira. Então, eu fico super feliz com o alcance que teve. É um projeto que eu não quero parar.
Blog For You: As culturas africana e afro-brasileira vêm sendo encenadas sob um novo olhar, em montagens que vêm ganhando cada vez mais espaço. Como você percebe isso?
Junior Dantas: Eu acho que sim, que estamos ocupando espaço, estamos criando projetos, espetáculos. Eu acho que ainda é muito pouco, mas nós estamos caminhando. O Brasil é um país racista, o país em que os negros não tem muita oportunidade, mas eu acho que a nossa luta é essa, é através da arte, através do amor, chegar nas pessoas, chegar na população, chegar no público. E se nós somos mais de 50% da população brasileira, a gente sim tem público para assistir, tem histórias pra contar, aliás, muitas histórias pra contar. O que eu vejo é que, apesar de ainda ser pouco, estamos caminhando, mas que bacana que estamos tendo esse espaço. Estamos lutando, estamos ocupando, nossos corpos estão lá, estamos contando nossas histórias, estamos sendo protagonistas, porque a gente vem de uma cultura na qual, com todo respeito as outras profissões, o negro só faz a empregada doméstica, o vendedor ou aquele que está preso. Então, está na hora de mudar essa história, de mudar essas narrativas e de que a gente ocupe todos os lugares, todos os teatros, as TVs, os cinemas, os comerciais de produtos, tudo.
Blog For You: Há nove anos você integra a companhia teatral OmondÉ. Como aconteceu esse encontro?
Junior Dantas: Então... eu sou do Rio Grande do Norte e a minha história é bem longa. Vou resumir: sou de Ipueira e fui estudar jornalismo em Campina Grande, na Paraíba, e lá, me profissionalizei. Comecei a entrar em companhias profissionais, registros de ator. Quando acabei a faculdade de jornalismo, fui morar em Angra dos Reis com dois amigos atores. Lá, começamos tudo de novo: montamos companhia, fizemos muitos espetáculos. Em Angra tem a FITA, que é o Festival Internacional de Teatro de Angra. A FITA convidou a Inez Viana para dirigir um espetáculo do Ariano Suassuna e, em contrapartida, teria que ter três atores de Angra e foi aí que eu fiz o teste e entrei na Companhia OmondÉ e estou lá até hoje. Aliás, nós vamos fazer dez anos e, em janeiro, a gente vai estrear um espetáculo, no Sesi do Centro, escrito na década de 50 pelo Ariano Suassuna que se chama “O Auto de João da Cruz”. Estamos em fase de ensaio e dia 16 de janeiro a gente estreia aqui no Centro do Rio. E foi um encontro maravilhoso porque tem pessoas de vários lugares, regiões, estados do Brasil, então a gente aprende muito, troca muitas ideias, já fizemos muitos espetáculos, isso é bem bacana.
Blog For You: De seus personagens, qual mais te marcou? E quem ainda gostaria de interpretar?
Junior Dantas: Eu acho que todos são muito legais. Cada personagem é uma entrega, é uma vida, a gente leva muito da nossa personalidade, mas eu não posso negar que ultimamente o Pequeno Príncipe Preto me marcou muito, ainda está muito em mim e foi muito prazeroso. Sempre fiz muito espetáculo para adulto e esse encontro com o público infanto-juvenil, com as famílias, eu falo que é uma missão, eu não quero parar. Já estou pensando no próximo espetáculo infanto-juvenil, quero muito trabalhar com essa questão de quebra dos padrões, dos estereótipos, da cultura africana, que tem esse recorte racial. No momento, na cabeça vem o Pequeno Príncipe Preto... as pessoas nem me chamam mais de Junior, mas dizem “e aí Príncipe”, “e aí, Príncipe Preto”, então é realmente um personagem bem marcante.
Blog For You: O que te distrai nas horas vagas?
Junior Dantas: Adoro muito, quando tenho tempo, viajar para Ipueira para ver minha família. Lá tenho meus amigos de infância, minhas sobrinhas, minha mãe, meus irmãos. Aqui no Rio, também gosto muito de ver peças. Quando está de folga, ator vai ver peça, né? Vejo muitos espetáculos, gosto de correr. Eu moro aqui na Glória, na Praça Paris, então, gosto de ir à feira nos finais de semana, comprar várias coisas. Gosto muito de conversar, de rir, de dançar, essas coisas todas.
Blog For You: Sobre o futuro... quais os seus projetos? Que novidades podemos esperar?
Junior Dantas: Com relação a companhia OmondÉ, em janeiro já estreia o espetáculo e, também, já no primeiro semestre, eu estreio um novo espetáculo infanto-juvenil, que está vindo com muitas novidades, muitas surpresas, então, aguardem porque vai ser bem bacana. Eu estou muito animado para 2020!
Blog For You: “O Pequeno Príncipe Preto” foi idealizado por você. Há um quê de biográfico? Conte-nos um pouco de sua infância e sua trajetória de Ipueira até o Rio de Janeiro.
Junior Dantas: Quando eu era criança, em Ipueira mesmo, ia rolar uma apresentação do Pequeno Príncipe, na minha escola, e eu pedi à professora para fazer o personagem e ela me disse que eu não poderia porque eu não tinha as características físicas desse príncipe, que eu não era loiro, que eu não tinha os olhos claros e aí eu cresci com isso. Aliás, na minha infância, eu não tinha muitas referências positivas dos personagens, dos super-heróis, ou quando ligava a TV, ou quando lia um livro e, claro, eu não entendi muito bem isso, né? Cresci com isso. E foi daí que surgiu sim a ideia de fazer o projeto e chamei alguns amigos. A galera topou, comprou a ideia, e daí surgiu “O Pequeno Príncipe Preto”. Tem uma parte do espetáculo em que eu narro o porquê montamos a peça. Mas claro a gente pegou a história do pequeno príncipe e trouxemos para a nossa cultura, a cultura africana, a cultura brasileira, para que as pessoas se identifiquem com a história. Partiu também da pergunta “por que todo príncipe é sempre loiro, do olho claro e vai chegar num cavalo branco?” E nós somos todos príncipes e princesas. E é isso, a gente conta a nossa história.
Blog For You: “O Pequeno Príncipe Preto” já foi visto por mais de 60 mil pessoas, em teatros e escolas públicas, Brasil afora. Você imaginou que o espetáculo alcançaria todo esse sucesso?
Junior Dantas: É o meu primeiro espetáculo independente aqui no Rio de Janeiro. Eu faço parte de uma companhia chamada OmondÉ, que é dirigida pela Inêz Viana. E é engraçado porque realmente você não imagina fazer teatro, uma peça não tem uma fórmula, não é uma receita de bolo, então, assim, tudo pode acontecer. Claro que a gente sempre se pergunta “será que vai dar público?”, “vai dar certo?”. Só que essa peça já cresceu com muita força. A vontade da equipe, a gente estreou em plena Copa do Mundo, em 2018, no Glauce Rocha. Era para ficar um mês, nós ficamos três meses, lotando, fazendo sessão extra e só saímos do teatro porque começamos a receber convites. Então, foi um espetáculo onde a equipe toda se dedicou, que eu me dediquei muito e aconteceu muita coisa legal, de chegar em lugares aos quais eu estava indo pela primeira vez na vida, como Porto Velho (RO) ou ter que ir a Goiás e ter que fazer sessão extra. É muito bacana você perceber a força do trabalho, de como chegar às pessoas que também querem ouvir a sua história e como elas se identificam, como elas se sentem representadas. O que eu vi de depoimentos de pessoas que também passaram por histórias iguais as minhas e pessoas na minha idade que não tiveram esses personagens na infância se emocionando, se identificando e levando os filhos, as crianças para assistir... É um espetáculo que vai além do teatro pois, através dele, a gente cria um debate, uma conversa entre pais e filhos. É um espetáculo para a família inteira. Então, eu fico super feliz com o alcance que teve. É um projeto que eu não quero parar.
Blog For You: As culturas africana e afro-brasileira vêm sendo encenadas sob um novo olhar, em montagens que vêm ganhando cada vez mais espaço. Como você percebe isso?
Junior Dantas: Eu acho que sim, que estamos ocupando espaço, estamos criando projetos, espetáculos. Eu acho que ainda é muito pouco, mas nós estamos caminhando. O Brasil é um país racista, o país em que os negros não tem muita oportunidade, mas eu acho que a nossa luta é essa, é através da arte, através do amor, chegar nas pessoas, chegar na população, chegar no público. E se nós somos mais de 50% da população brasileira, a gente sim tem público para assistir, tem histórias pra contar, aliás, muitas histórias pra contar. O que eu vejo é que, apesar de ainda ser pouco, estamos caminhando, mas que bacana que estamos tendo esse espaço. Estamos lutando, estamos ocupando, nossos corpos estão lá, estamos contando nossas histórias, estamos sendo protagonistas, porque a gente vem de uma cultura na qual, com todo respeito as outras profissões, o negro só faz a empregada doméstica, o vendedor ou aquele que está preso. Então, está na hora de mudar essa história, de mudar essas narrativas e de que a gente ocupe todos os lugares, todos os teatros, as TVs, os cinemas, os comerciais de produtos, tudo.
Blog For You: Há nove anos você integra a companhia teatral OmondÉ. Como aconteceu esse encontro?
Junior Dantas: Então... eu sou do Rio Grande do Norte e a minha história é bem longa. Vou resumir: sou de Ipueira e fui estudar jornalismo em Campina Grande, na Paraíba, e lá, me profissionalizei. Comecei a entrar em companhias profissionais, registros de ator. Quando acabei a faculdade de jornalismo, fui morar em Angra dos Reis com dois amigos atores. Lá, começamos tudo de novo: montamos companhia, fizemos muitos espetáculos. Em Angra tem a FITA, que é o Festival Internacional de Teatro de Angra. A FITA convidou a Inez Viana para dirigir um espetáculo do Ariano Suassuna e, em contrapartida, teria que ter três atores de Angra e foi aí que eu fiz o teste e entrei na Companhia OmondÉ e estou lá até hoje. Aliás, nós vamos fazer dez anos e, em janeiro, a gente vai estrear um espetáculo, no Sesi do Centro, escrito na década de 50 pelo Ariano Suassuna que se chama “O Auto de João da Cruz”. Estamos em fase de ensaio e dia 16 de janeiro a gente estreia aqui no Centro do Rio. E foi um encontro maravilhoso porque tem pessoas de vários lugares, regiões, estados do Brasil, então a gente aprende muito, troca muitas ideias, já fizemos muitos espetáculos, isso é bem bacana.
Blog For You: De seus personagens, qual mais te marcou? E quem ainda gostaria de interpretar?
Junior Dantas: Eu acho que todos são muito legais. Cada personagem é uma entrega, é uma vida, a gente leva muito da nossa personalidade, mas eu não posso negar que ultimamente o Pequeno Príncipe Preto me marcou muito, ainda está muito em mim e foi muito prazeroso. Sempre fiz muito espetáculo para adulto e esse encontro com o público infanto-juvenil, com as famílias, eu falo que é uma missão, eu não quero parar. Já estou pensando no próximo espetáculo infanto-juvenil, quero muito trabalhar com essa questão de quebra dos padrões, dos estereótipos, da cultura africana, que tem esse recorte racial. No momento, na cabeça vem o Pequeno Príncipe Preto... as pessoas nem me chamam mais de Junior, mas dizem “e aí Príncipe”, “e aí, Príncipe Preto”, então é realmente um personagem bem marcante.
Blog For You: O que te distrai nas horas vagas?
Junior Dantas: Adoro muito, quando tenho tempo, viajar para Ipueira para ver minha família. Lá tenho meus amigos de infância, minhas sobrinhas, minha mãe, meus irmãos. Aqui no Rio, também gosto muito de ver peças. Quando está de folga, ator vai ver peça, né? Vejo muitos espetáculos, gosto de correr. Eu moro aqui na Glória, na Praça Paris, então, gosto de ir à feira nos finais de semana, comprar várias coisas. Gosto muito de conversar, de rir, de dançar, essas coisas todas.
Blog For You: Sobre o futuro... quais os seus projetos? Que novidades podemos esperar?
Junior Dantas: Com relação a companhia OmondÉ, em janeiro já estreia o espetáculo e, também, já no primeiro semestre, eu estreio um novo espetáculo infanto-juvenil, que está vindo com muitas novidades, muitas surpresas, então, aguardem porque vai ser bem bacana. Eu estou muito animado para 2020!