Machado de Assis é o grande divisor de águas da literatura brasileira! Sua obra, sobretudo os romances e os contos, é de importância ímpar. Oriundo do Romantismo, escreveu enredos sentimentais cujos protagonistas assumiam o papel de herói, vide “Helena” (1876) e “Iaiá Garcia” (1878). Mas Machado tinha estilo próprio, um jeito machadiano de contar histórias, natural que o rompimento com o cânone romântico viesse. Com “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) veio a revolução. Audaz, inovador. O “defunto-autor” inaugura uma nova fase da obra machadiana, de tom cáustico, que lança mão da ironia, do pessimismo e até mesmo indiferença para retratar o Rio de Janeiro e a sociedade da época com todas as suas contradições. Estas são algumas das características que o tornaram a outra inaugural do Realismo no Brasil.
Este período, que se convencionou chamar de “segunda fase”, da produção machadiana, atingiu seu ápice com “Dom Casmurro” (1900). Neste, o leitor acompanha a história de Bento de Albuquerque Santiago, o Bentinho, narrada por ele próprio. Sua história de amor e o drama de sua vida ao se apaixonar por sua vizinha Capitu são o pano de fundo para a discussão de temas como o amor, o ciúme, o caráter e a traição, sem abrir mão da ironia e da crítica social.
Anos antes, em 1897, Machado de Assis estava entre o grupo de intelectuais que idealizaram e fundaram a Academia Brasileira de Letras, com o objetivo de “cultuar a cultura brasileira e, principalmente, a literatura nacional”. O autor foi eleito, por unanimidade, o primeiro presidente da Academia e, em seu discurso inaugural, aconselhou aos presentes: “Passai aos vossos sucessores o pensamento e a vontade iniciais, para que eles o transmitam também aos seus, e a vossa obra seja contada entre as sólidas e brilhantes páginas da nossa vida brasileira”.
É a Academia Brasileira de Letras a responsável pelo principal prêmio literário nacional, oferecido a escritores brasileiros, pelo conjunto de sua obra, desde 1941. O prêmio leva o nome de Machado de Assis.
Em seus contos, Machado era igualmente genial. A diferença destes para os romances é que, de acordo com Flávio Aguiar, nestes, o autor procura “representar o mundo como um todo: persegue a espinha dorsal e o conjunto da sociedade”, enquanto que os contos são “a representação de uma pequena parte desse conjunto, mas não de qualquer parte, e sim daquela especial de que se pode tirar algum sentido”. (Aguiar, 1976, p. 6)
Diante de tamanha contribuição para a história e desenvolvimento da literatura nacional, é compreensível que Machado de Assis ainda seja um dos mais celebrados autores dentro e fora dos centros acadêmicos, no Brasil e no exterior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário