Jornalista, dramaturgo, escritor. Um dos expoentes de sua geração. Rotina, contracultura, política, psicologia, solidão, amor e sexo sob a forma de contos, romances, novelas e peças. Um fenômeno nas redes sociais. O tom autobiográfico de sua escrita faz com que, a cada dez frases compartilhadas, ao menos seis sejam de sua autoria. Neste dia 12 de setembro, Caio Fernando Abreu, um dos mais populares escritores brasileiros, completaria 70 anos.
Nascido em Santiago do Boqueirão, cidade do Rio Grande do Sul próxima à fronteira com Argentina, Caio viveu em diversas cidades do Brasil e do mundo, o que talvez tenha influenciado o autor a desenvolver uma obra de linguagem simples, coloquial, fluida, que aborda temas não-convencionais.
Seu primeiro conto, “O Príncipe e o Sapo”, foi publicado em 1966 na revista Cláudia. Neste mesmo ano, começou a escrever seu primeiro romance “Limite Branco”. Neste, já se encontram as marcas que acompanhariam sua trajetória literária: a angústia diante do devir e a morte como certeza no final da jornada.
“ Fico pensando se viver não será sinônimo de perguntar. A gente se debate, busca, segura o fato com as duas mãos sedentas e pensa: ‘Achei! Achei!’ - mas ele escorrega, se espatifa em mil pedaços, Como um vaso de barro coberto apenas por uma leve camada de louça. A gente fica só, outra vez, e tem que começar do nada, correndo loucamente em busca dos outros vasos que vê. (...) começamos de novo, mais uma vez, dia após dia, ano após ano. Um dia a gente chega na frente do espelho e descobre: ‘Envelheci’. Então a busca termina. As perguntas calam no fundo da garganta, e vem a morte. Que talvez seja a grande resposta. A única.” (Caio Fernando Abreu, “Limite Branco”)
Em 1982, lançou seu quarto livro, “Morangos Mofados”, considerado sua obra prima pela crítica literária. A obra é composta por 18 contos, divididos em três partes: “O Mofo” (nove contos), “Os Morangos” (oito contos) e aquele que dá título à obra, “Morangos Mofados”.
“Já li de tudo, cara, já tentei macrobiótica, psicanálise, drogas, acupuntura, suicídio, ioga, dança, natação, cooper, astrologia, patins, marxismo, candomblé, boate gay, ecologia. Sobrou só esse nó no peito. Agora faço o quê?” (Trecho do conto “Os Sobreviventes”, do livro “Morangos Mofados”)
O trecho acima mostra a pungência, a angústia, características marcantes da obra “Morangos Mofados”, que reúne contos inéditos. Nestes, são abordados temas como o homoerotismo, a repressão política e uma reflexão sobre a arte. A narrativa é feita de forma a reproduzir a confusão de um mundo fragmentado. O questionamento dos valores sociais e existenciais surgem através de personagens excêntricos, que representam as vozes marginalizadas pela sociedade de então. O título metaforiza a ação sufocadora dos valores de uma sociedade repressora sobre a vida dos indivíduos.
Três anos após seu lançamento, “Morangos Mofados” foi adaptado para o teatro e dirigido por Paulo Yutaka.
Dentre outros, Caio recebeu o “Prêmio Jabuti de Literatura” por “O Triângulo das Águas”, “Os Dragões não Conhecem o Paraíso” e “Ovelhas Negras”.
Caio Fernando Loureiro de Abreu viveu intensamente a época da ditadura e buscou inspiração em momentos importantes de sua vida. Segundo sua obra, a vida deve ser buscada continuamente, a felicidade, incessantemente. Ele dizia aos amigos:
“Eu queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi.”É, Caio, desejos se realizam!
Caio Fernando Abreu - O dia que Júpiter encontrou Saturno. In: Morangos Mofados. Imagem:Pinterest. |
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