Na última quinta-feira, dia 13 de setembro, foi a vez de Aderbal Freire Filho dar continuidade ao ciclo de conferências sobre “Cinema e Literatura”, da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Sob a coordenação do Acadêmico e poeta Geraldo Carneiro, o autor, diretor e ator de teatro apresentou sua palestra intitulada “Romance-em-cena: questão de gênero”.
Fundador do Grêmio Dramático Brasileiro (1973) e do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (1989), “distingue-se entre os diretores brasileiros por aliar a busca constante por novas formas de teatralismo a uma encenação que prioriza o ator como agente principal da linguagem e da comunicação das ideias do texto”, o que ficou claro durante sua conferência, ao contar sua vivência no mundo teatral.
Aderbal Freire Filho explicou que “Romance-em-cena” é a expressão com a qual se denominou a trilogia de romances que levou ao palco. A partir da definição encontrada em “La Novela Luminosa”, de Mario Levrero - “... um romance, atualmente, é quase qualquer coisa que se coloque entre a capa e a contracapa” -, o conferencista concluiu que, se um romance é, em sua origem, o que fora afirmado por Levrero, “depois de publicado, pode ser também uma peça de teatro, um filme, uma série de televisão, uma telenovela…“. Lembrou a importância da existência do cinema, especialmente o falado, para a adaptação de romances para o teatro. Como bem disse Noel Rosa, “o cinema falado é o grande culpado da transformação”.
O cinema foi o primeiro a adaptar romances para fazer seus filmes, só depois o teatro aderiu à prática.
O cinema tem o teatro em sua essência. “São linguagens diferentes, poéticas diferentes, meios de criação diferentes, alcances diferentes, mas o mesmo princípio: pessoas que fingem ser outras, diante de pessoas que fingem acreditar”, explicou Aderbal, citando Jorge Luis Borges.
A invenção do cinema falado foi importante para a reinvenção do teatro. Este, limitado no tempo e no espaço, ao ter de enfrentar o poder do cinema, teve de redescobrir o poder da imaginação. Esta volta a ser o recurso, por excelência, da criação teatral. “A arte de encenar passa a ser a arte de provocar a imaginação do espectador e não mais a arte de mostrar e imitar o real.”
Aderbal terminou sua palestra lendo um trecho extraído do programa de mão da peça “O Púcaro Búlgaro”, que explica a teoria e prática do “Romance-em-cena”: “... é o jogo da ilusão, no teatro, levado ao paroxismo. Verdade e mentira escancarados simultaneamente, o eu e o outro declarados, o discurso em terceira pessoa e a ação em primeira pessoa. É, ainda, a comunhão carnal mais acabada do épico e do dramático, o tempo inteiro narrativo e o tempo inteiro dramático. Uma versão radical do sonho de alguns teóricos do século XX de convidar para a mesma mesa Aristóteles e Brecht”.
“Cinema e Literatura” terá mais duas palestras:
- Dia 27 de setembro - “Literatura e Teledramaturgia: diferenças e confluências” (Maria Adelaide Amaral) e
- Dia 30 de setembro - “Letras e imagens: a literatura no cinema” (Cacá Diegues).
As conferências começam às 17h30min. A ABL fica na Avenida Presidente Wilson, 203, Castelo. A entrada é franca.
Referências:
ADERBAL Freire-Filho. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa18028/aderbal-freire-filho>. Acesso em: 16 de Set. 2018. Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7
Nenhum comentário:
Postar um comentário