terça-feira, 4 de setembro de 2018

Ponto Cego

Paulo Vieira apresentou sua exposição “Ponto Cego”, com 28 obras, divididas entre desenhos e pinturas, na Galeria Movimento Arte Contemporânea.
Todo o seu trabalho está pautado em imagens que criam armadilhas. E a solução por cada obra é vista através do olhar do espectador que pode resolver com suas experiências individuais. Sua composição refinado e com trabalho investigativo sustentam em sua própria dimensão conceitual. 
As suas obras rompem com a continuidade do indiscutível e confrontam a geometria à irracionalidade.
O artista abandona a concepção tradicional do retrato. Ele se apresenta de forma tênue e desapegado ao figurativo à grandiosidade e ao sentimentalismo que o afasta de um figurativo apressado: Suas pinceladas se conjugam de forma que vai além da lógica de fundo e figura.
No universo atual das redes sociais e dos telefones celulares, não podemos mais pensar em solidão. Hoje temos a possibilidade de nos relacionarmos com pessoas próximas ou distantes de nós. É praticamente uma exigência social para nos manifestarmos de tudo que nos rodeia. “Tudo é partilhado numa dissolução dos limites entre o público e privado que ameaça os territórios mais íntimos de nossas memórias e sentimentos”. Paulo Vieira diz que não. E resiste a esse fluxo. A única saída contra o mundo conectado, consumível e contentes vem através de Garcia Márquez que chamou de “um pacto honrado com a solidão”.
E que através das coisas mais importantes da vida, continua no limiar do silêncio e da incomunicabilidade que o pensador Havilock Ellis definiu como “um mundo arcaico de vastas emoções e pensamentos imperfeitos”.
Portanto isolamento e solidão são coisas diferentes e, a solidão não deve ser entendida como patologia, mas uma busca de conceitos através de formas de comunicação mais profundas e verdadeiras, portanto sem medição de máquinas. Durante o período na Renascença, isso se chamava de “sacra conversazione”, que é portanto a percepção do subjetivo que se define no plano simbólico,na escolha precisa das cores e significados, nos sinais da vida que afirma a irredutível independência, através do realismo psíquico que vem nas obras dos sonhos e pensamentos. 
A arte de Paulo Vieira tem através só seu desenho, a prática diária e toda a sua obra é inteiramente ligada ao processo de descoberta e inquisição, e às vezes se apresentando de forma obsessiva. Suas obras se revelam de uma forma não simples de ser, pois são articuladas em torno das ideias de isolamento, incomunicabilidade e vida interior.
Através da definição do curador Mauro Trindade, os autorretratos ou criptoretratos de Paulo Vieira são visivelmente apresentados através de seus personagens, numa narrativa não linear, dentro de um universo atemporal e inquietante. Com isso, através de sua obra, a arte onírica de Paulo Vieira faz com que “nós possamos confrontar através do trágico, a obscuridade e o desconhecido, onde voragem e vertigem são apenas outros nomes do mesmo abismo que olha para você.”





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